terça-feira, 12 de junho de 2012

A Maturidade da fé do casal cristão em defesa da vida


A Maturidade da fé do casal cristão em defesa da vida

Palestra proferida pelo Padre José Oslei de Souza, no XIV Congresso Regional do Encontro de Casais com Cristo, realizado no Colégio Verbo Divino, em Barra Mansa/RJ de 18 a 20 de julho de 2008

Prezados Senhores Bispos, queridos irmãos no sacerdócio, queridos casais congressistas, queridas famílias!
Saúdo a todos aqui presentes com as benditas e iluminadas palavras do apóstolo Paulo. (CI3, 12-17).
“Irmãos: vós sois amados por Deus, sois seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o senhor vos perdoou, assim perdoai- vos também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. E sede agradecidos. Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai­vos uns aos outros com toda a sabedoria. Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças. Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras,seja feito em nome do senhor Jesus Cristo. Por meio dele daí graças a Deus, o Pai”.
QUE ESTAS PALAVRAS ILUMINEM NOSSA REFLEXÃO
Quanta alegria para o meu coração de padre e diretor espiritual do Encontro de Casais com Cristo, estar novamente aqui com vocês vivenciando esses acontecimentos maravilhosos e memoráveis, que os congressos normalmente nos proporcionam.
Os momentos de espiritualidade, as partilhas e trocas de experiências, a riqueza do aprendizado, a alegria da acolhida e hospitalidade, o reencontro com os velhos amigos e o entrelaçamento de novas amizades e tantas outras coisas mais, ficam para sempre em nós.
Porém, participar de um congresso, trata-se de uma oportunidade rara que não pode ficar somente conosco, devemos ter o sincero compromisso de encontrar meios e situações para compartilhar com o maior número possível de casais pertencentes às nossas paróquias e dioceses de origem, embora, saiba que muitas coisas que aqui experimentamos serão tesouros de nossas experiências e histórias pessoais.
Preparar-me, para agora apresentar esta palestra no XIV Congresso da Região Leste, com este sugestivo tema: “A Maturidade da Fé do Casal Cristão em Defesa da Vida” primeiro me fez recordar a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” nO 284 que nos diz: “Além disso, tudo que atenta a própria vida, como qualquer espécie de homicídios, o genocídio, o aborto, a eutanásia e o próprio suicídio voluntário; tudo que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, as torturas físicas ou morais e as tentativas de dominação psicológica; tudo o que ofende a dignidade humana, como as condições infra-humanas de vida, os encarceramentos arbitrários, as deportações, a escravidão, a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as condições degradantes de trabalho, que reduzem os operários a meros instrumentos de lucro, sem respeitar-Ihes a personalidade livre e responsável: todas estas práticas e outras semelhantes são efetivamente dignas de censura. Enquanto elas inficionam a civilização humana, desonram mais os que se .comportam desta maneira, do que aqueles que padecem tais injúrias. E contradizem sobremaneira a honra do Criador”. A abrangência que este texto tem no tocante a defesa e a dignidade da vida muito nos impressiona e nos desafia, segundo, me fez entrar na perspectiva da reflexão e ao mesmo tempo em comunhão, com esse riquíssimo tempo que vive a nossa Igreja Católica, totalmente voltada para o tema da vida.
Mais uma vez a defesa da vida se faz presente nos cenários pastorais, empurra as portas da reflexão cristã católica e entra com a força de um tufão, abrindo novos horizontes na perspectiva da temática sobre a complexidade desse precioso dom divino.
A crise ambiental no planeta Terra e os perigosos meios de manipulação e intervenção no processo da vida humana são assuntos que constituem a temática da Campanha da Fraternidade de 2008. Este conteúdo é desafiador e complexo, pois, trata da existência humana e a vida em toda sua compreensão e extensão. .
Seguindo essas linhas de reflexões presentes nas produções literárias e orientações pastorais o nosso congresso/2008 entra nesta esteira e ponderações sobre a defesa da vida e isso ce a e e justifica o tema e o lema que norteiam o nosso encontro.
Numa primeira interpretação do tema e nessa palestra poderíamos dizer que a defesa da vida é uma conseqüência natural da maturidade da fé cristã dos casais. O óbvio, então, seria, concluir ou mesmo intuir que não defender a vida em toda sua extensão e compreensão é realmente uma imaturidade.
Pelo tempo e pertinência não cabe aqui fazer uma apresentação da crise ambiental ou mesmo das complexas discussões sobre a manipulação da vida em sua gênese ou finidade, pois, estamos sendo e certamente seremos de muitas maneiras, mais informados sobre esses assuntos.
Ao constatarmos uma crise ambiental no planeta e uma forte pressão sobre a supremacia e a dignidade da vida, a principio podemos dizer que existiu ou ainda existe uma ciência imatura, um progresso insano, imaturo, uma ideologia imatura e porque não, ma teologia imatura, pois, a vida está ameaçada a tal ponto de todos os setores sociais e religiosos se mobilizarem para clamar por posicionamentos que defendam a vida enquanto ela não se esgote ou se esvazie por completo ou termine de forma definitiva.
Os bispos da América reunidos em Aparecida assim nos orientam: “Evangelizar nossos povos (famílias) para que descubram o dom da criação, sabendo contemplá-Ia e cuidar dela como Casa de todos os seres vivos e matriz da vida do planeta, a fim de exercitarem responsavelmente o senhorio humano sobre a terra e sobre os recursos, para que possam render todos os seus frutos com destinação universal, educando para um estilo de v-ida de sobriedade e. austeridade solidárias”. (Doc. Aparecida – n0 474a). Correspondendo a este apelo, o traçado pastoral passa pela responsabilidade de uma evangelização familiar que não descuida da orientação sobre a necessidade de amarmos e protegermos a Terra como o próprio documento nos diz “casa de todos os seres vivos e matriz da vida do planeta”. A defesa da vida da Terra hoje passa por atitudes simples e domésticas (tais como fechar uma torneira evitando o desperdício) até os mais altos posicionamentos políticos nacionais e internacionais.
É tarefa de nosso congresso apontar setas e acender mais luzes na direção da luta pela preservação da vida, pois, enquanto casais que fizeram a sua experiência de encontro com Cristo, somos um serviço¬ escola de nossa Igreja, temos como’ missão formar consciências e ainda mais, queremos aceitar a proposta de sermos formados como discípulos e missionários em DEFESA DA VIDA.
Realmente este congresso tem uma objetividade singular: estamos aqui para nos fortalecermos e nos prepararmos para darmos a nossa contribuição concreta frente à exigência e o desafio que nossa Igreja nos apresenta na atualidade.
Seguindo a trilha da proposta dos organizadores desse congresso, esta palestra-reflexão deve conduzir os casais aqui presentes a objetivos concisos, respaldados em uma fundamentação bíblica e teses da doutrina católica cristã. Assim, nos propormos a nos aproximar na medida do possível do intento.
Queremos perguntar: A Vivência dos princípios fundamentais da religiosidade, tais como: oração, observação do domingo, participação na Eucaristia, o descanso em família e outros valores podem conduzir o casal e a sua família à maturidade da fé?
Para chegarmos a algumas propostas de respostas vamos tomar em separado cada um desses princípios e refletir brevemente sobre os mesmos à luz das orientações pastorais e doutrinas da nossa Igreja.
ORAÇÃO EM FAMÍLIA
Como é difícil manter-se em oração, é por demais desafiador permanecer com o coração em intima união com Deus. A luta pela sobrevivência nos conduz ao ativismo e à falta de tempo, a vida ao nosso redor pode nos levar ao egoísmo, individualismo, indiferença, dispersão e até mesmo ao afastamento de Deus.
Estamos sempre cheios de atividades e muito preocupados com nossas causas e interesses pessoais. Temos sempre uma desculpa para não darmos tempo à nossa formação integral por meio da oração. No entanto, neste mundo em que vivemos orar é uma questão de necessidade. Muitos casais e famílias já descobriram isso e hoje são em nossas comunidades de fé verdadeiras testemunhas da oração.
Nosso espírito pobre e preguiçoso não sabe o quanto é maravilhoso a graça de Deus, adquirida por meio da oração. A graça de Deus somente nos constrói. Ela tudo orienta. Tudo eleva. Tudo santifica. Para vencermos nossas lutas e tormentos, para construirmos uma sociedade mais justa e fraterna, somente mediante um forte espírito de oração. Na individualidade obtemos esse espírito orante, mas é em família que ele ganha consistência e é mais bem cultivado.
A oração nos faz ver Deus presente em tudo e em todos. A oração nos faz encontrar a pessoa de Jesus Cristo Ressuscitado através dos nossos relacionamentos e nos acontecimentos da vida. A oração nos abre aos grandes e pequenos problemas da humanidade. Somente ela nos sensibiliza para essa comunhão com a vida familiar, profissional, política, econômica, social, eclesial de toda a humanidade. A oração nos faz compreender que Jesus está plenamente vivo e que Ele tem muito a nos dizer.
Orar é nunca se sentir sozinho, mas é sentir­se forte e com mais ânimo para vencer as dificuldades da vida, para encontrar os caminhos e deixar-se ser conduzido pelas luzes do Espírito Santo. Orar para o cristão e a cristã é uma questão de sobrevivência espiritual, ou seja, sem oração não se tem vida espiritual.
Vejamos o que nos diz Paulo VI: “Descoberta da intimidade divina, exigência da adoração e necessidade de intercessão: a experiência da santidade cristã mostra-nos afecundidade da oração, em que Deus se manifesta ao espírito e ao coração dos seus servidores. O Senhor dá-nos este conhecimento dele mesmo no fogo do amor”(EA-;.,Evangelica Testificatio – n0 42).
Quando se ora em família, o poder e a força, que são elementos próprios da oração, ganham um considerável sentido. A vida normalmente está no centro de nossas orações, ora rezamos porque ela encontra-se ameaçada, ora rezamos para agradecer por seu infinito valor. Os membros de uma família reunida em oração na defesa da vida são combatentes que não cedem aos obstáculos e contam com a certeira vitória.
Tudo é gratuidade de Deus, especialmente, o dom da oração. Quando oramos juntos, estamos vivendo em plenitude a bondade de Deus, que se revela na vida de seu povo. Na oração as graças são acolhidas no espírito do recolhimento e da intimidade com Deus. Quer sozinhos, em família ou com a comunidade de fé, os encontros de oração, são fortes expressões que revelam a nossa fé e a nossa disponibilidade para corresponder ao amor gratuito e generoso de Deus. Sejamos agradecidos ao Senhor por sua presença maravilhosa entre nós quando estamos reunidos em ‘ seu nome. Nosso Deus santifica os corações daqueles que se unem a Ele pela experiência da oração,
Ousamos o que nos diz o Papa João Paulo 11: “A oração familiar tem suas características. É uma oração feita em comum, marido e mulher juntos, pais e filhos juntos. A comunhão na oração é, ao mesmo tempo, fruto e exigência daquela comunhão que é dada pelos sacramentos do batismo e do matrimônio”. (Familiares Consortio – n° 59).
Na Igreja existem muitos místicos que são verdadeiros mestres da oração. Porém, é maravilhoso saber que a escola da oração é a família. Juntos a nossos pais e irmãos nós vamos nos tornando família que aprende a conversar com Deus. F am íl ia que tem atitude de escuta e disponibilidade para seu Deus mediante o exercício simples da oração.
Família que desde muito cedo aprende que existe um Pai que é provedor de todas as nossas necessidades, um Irmão que nos une e nos fortalece na sua capacidade de congregar no amor, e um Senhor de Luz que nos concede dons e virtudes tantas quantas precisamos para a maravilhosa aventura de ser família e ter um lar.
Assim, na Trindade Santa e bendita podemos afirmar: além de nós, se lá em casa alguém chorar, este pranto muito em breve se secará, se alguém cair, ele não ficará por muito tempo no chão, se seu corpo for ferido e atormentado pela dor e pelo sofrimento, ele será curado, se enfrentarmos noites escuras, conheceremos juntos as manhãs luminosas de dias cheios de esperanças e novo vigor. .
Ousamos as sábias palavras de nosso saudoso papa João Paulo 11: “Em virtude da sua dignidade e missão, os pais cristãos têm o dever específico de educar os filhos para a oração, de os introduzir na descoberta progressiva do mistério de Deus e no colóquio pessoal com Ele. É sobretudo na família cristã, ornada de graça e do dever do sacramento do matrimônio, que devem ser ensinados os filhos desde os primeiros anos, segundo a fé recebida no Batismo, a conhecer e adorar a Deus e amar o próximo”. (Familiares Consortio – n0 60).

Extraido do blog: http://catolicosnarede.wordpress.com/2008/07/28/a-maturidade-da-fe-do-casal-cristao-em-defesa-da-vida/

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Dom da Esperança A fé nasce das incertezas


O Dom da Esperança

A fé nasce das incertezas
Manhãs sempre são um sinal de recomeço. Quando as forças parecem estar no fim, sempre se faz necessário buscar na fé as certezas de um novo tempo. Assim é a vida: um contínuo processo de estações, onde o hoje é sempre uma nova oportunidade de ser feliz.
Nem sempre é fácil buscar algo que ainda não se consegue ver. A fé nasce das incertezas. Se tudo fosse certo não haveria necessidade de acreditarmos em algo que ainda não nasceu no jardim de nossas possibilidades. Quando o incerto nasce, a certeza da fé nos devolve a calma de uma manhã de esperanças sempre novas.
Nas estações da alma a esperança sempre nos convida a colhermos as flores que ainda são apenas sementes. Somente quem aprendeu a semear saberá que a colheita leva tempo e é preciso saber esperar. Os agricultores sabem que a semente leva tempo para nascer. Diante da sepultura da semente eles sabem que ela está em um processo silencioso de germinação. E quando menos se espera, a semente surge a partir de um processo reconciliado com o tempo da natureza. É o milagre dos processos de ressurreição que superam a morte, dando lugar ao verde de eternas esperanças.
A esperança passa pelo mesmo processo da semente: ela nasce das incertezas a partir de uma certeza maior. Nem sempre é fácil acreditar quando tudo parece ser tempestade e as ondas revoltas da vida parecem afundar as pequenas esperanças que ainda nos mantêm em pé. 

Diante das desesperanças da mulher que iria levar o filho para ser sepultado, Jesus aparece como um sinal de vida em meio à morte. A procissão das possibilidades encontra-se com a procissão das despedidas.  Diante das lágrimas daquela mãe que contempla seu filho já sem vida, o Senhor reconhece as dores de quem não tem mais a esperança como companhia. As alegrias de outrora eram agora somente a saudade de um tempo que se foi. O passado era apenas uma recordação de um presente doloroso e de lágrimas.
Quando Jesus se aproxima, as noites daquela senhora começam a ganhar tonalidades de uma nova manhã com cores de vida. Das trevas das incertezas começam a desabrochar o verde de um novo tempo. As lágrimas que antes molhavam as saudades de um tempo de alegrias, agora cedem lugar aos sorrisos de uma vida nova que traz as certezas das flores que germinam repletas de fé no jardim da alma.
Foi na esperança diante da morte já decretada que Jesus devolveu a vida àquela senhora que caminhava por uma estrada sem flores e sem vida. O inverno de uma estação sem vida fez daquele jardim de tristezas um lindo canteiro de flores de esperança.
Em Jesus Cristo encontramos a certeza nas horas incertas. Diante do Autor da Vida toda semente é sempre uma possibilidade de esperança, que renasce a cada gota de fé que irriga o solo das tristezas. Enquanto houver uma semente de esperança haverá a certeza de uma nova vida a desabrochar.
Padre Flávio Sobreiro
Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG.
Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
http://www.flaviosobreiro.com
acesse: www.cancaonova.com.br